Tema ganha força com a realização da Conferência; pedagoga defende atualização docente e da escola frente aos impactos ambientais
Por Ioná Piva Rangel | Assessoria de Imprensa e Conteúdo
Efeito estufa, zonas térmicas, desmatamento, queimadas, são temas que fazem parte de conteúdos trabalhados em sala de aula do Ensino Fundamental e Médio. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca sustentabilidade e natureza como conteúdo obrigatório. Mas na prática, segundo especialistas, há dificuldades em aplicar determinados conhecimentos em sala de aula. Com a COP 30, o assunto volta ao centro do debate.
A pedagoga e educadora Maria Malerba destaca que a abordagem climática precisa ir além do conteúdo que “cumpre currículo”. “Mais do que exercer o que está escrito na BNCC, cabe ao professor mediar e facilitar a aprendizagem de forma significativa, com práticas e contato das crianças e jovens em meio a natureza. Quando tratamos de clima, isso não é uma teoria distante. É cotidiano. É casa, é bairro, é cidade, é mundo. A criança precisa sentir que o tema tem ligação direta com a vida dela”.
Dados da ONG Todos Pela Educação (2025), revelam que apenas 49,5% dos estudantes dos Anos Iniciais reconhecem que o planeta passa por mudanças climáticas. “Tivemos, recentemente, a criação do ECA Ambiental, um projeto de lei que visa garantir o direito de crianças e adolescentes ao acesso à natureza. Este projeto propõe diretrizes para políticas públicas que conectem infâncias ao meio ambiente, como a criação de mais áreas verdes em cidades, a integração de escolas com a natureza e a proteção de jovens em eventos climáticos extremos. Os educadores precisam de apoio, todos devem exigir o cumprimento desta nova lei”, reforça.
Malerba defende ainda, empenho no cotidiano escolar, com planejamentos de pequenos experimentos, mesmo com materiais simples, que podem provocar curiosidade e ampliar repertórios. “Para despertar o interesse e o prazer da descoberta não precisa de muito. Com folhas, terra e água o professor pode realizar diferentes investigações científicas. Basta querer, ter prazer no ofício de criar e ensinar em meio a materiais naturais”.
Na Educação Infantil, ela orienta a criação de iniciativas que promovam um contato rítmico e íntimo das crianças em meios naturais, pátios arborizados, ambientes com grama para correrem descalços e o cultivo de uma horta. “É uma necessidade extrema, que todas as escolas devem praticar, não cuidamos daquilo que não amamos. É preciso cultivar o afeto das crianças com a natureza, para então falar de proteção”.
Discurso e prática
Além da falta de formação, o cenário social que envolve o professor é outro obstáculo. Baixos salários, sobrecarga e indisciplina da turma geram desmotivação, ambientes concretados, famílias distantes, que cobram muito e agem pouco.
Para Malerba, a escola também precisa atualizar a sua comunicação com a comunidade e com as famílias. “É incoerente a escola falar de sustentabilidade se não existe uma comunidade ativa e participativa no ambiente educacional. As famílias têm que ajudar a escola das formas possíveis, para juntos trazerem práticas simples como a separação de resíduos, economia de energia ou projetos permanentes de horta. O discurso precisa bater com a vivência. O aluno aprende pelo exemplo. Quando todos se unem por uma causa, as crianças entendem profundamente a urgência e a replicam”.
Ela sugere que, principalmente, com a realização da COP 30 no Brasil, os professores assumam o protagonismo. “O Brasil está no foco mundial e não faz sentido a escola ficar de fora dessa conversa. A agenda climática não é mais um tema “extra”: ela é parte da existência contemporânea e a sala de aula, assim como o pátio escolar, não pode ficar para trás”, concluiu.

Fotos: Divulgação




