Esforço conjunto entre escola, alunos e responsáveis precisa existir na formação de indivíduos mais equilibrados e saudáveis
Por Ioná Piva Rangel – Assessoria de Imprensa e Mídia
A possível proibição do uso de celulares em escolas públicas e privadas brasileiras tem gerado intenso debate entre educadores, pais e estudantes. A proposta, que vem ganhando força entre algumas esferas governamentais, visa combater a distração em sala de aula e melhorar o desempenho dos alunos. No entanto, especialistas em educação alertam que uma medida isolada não é suficiente para lidar com a questão.
Dados divulgados pela FGVcia (Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas) mostram que o país tem 1,2 smartphones por pessoa –total de 249 milhões de celulares inteligentes em uso no Brasil.
Para a pedagoga Maria Malerba, de Lorena-SP, restringir o uso de celulares dentro das escolas pode trazer benefícios imediatos, mas a solução para os problemas de foco e disciplina vai além das paredes da sala de aula. “A proibição pode até funcionar como um paliativo, mas ela não resolve a raiz do problema. O uso excessivo de tecnologia é uma questão cultural e familiar. Só proibir o celular na escola é pouco, precisamos de uma educação midiática”, afirma.
Segundo a especialista, é fundamental que a discussão sobre o uso de dispositivos eletrônicos seja ampliada para além do ambiente escolar. “Os jovens estão expostos à tecnologia mais do que deveria, e na maioria das vezes sem orientação adequada, isso pode impactar o desenvolvimento social e emocional deles. O diálogo entre a escola e a família precisa ser reforçado, promovendo uma educação digital consciente e equilibrada”, sugere a pedagoga.
Escola – ambiente livre para o desenvolvimento
A pedagoga ainda alerta para incentivos que as escolas precisam estar mais atentas. “O contato com a natureza, as práticas do brincar necessitam estar sempre disponíveis nas escolas. Hoje as crianças não sabem sentar para brincar, muito menos estar em ócio, de imediato já pedem as telas como fuga”.
O excesso de tempo diante de celulares tem prejudicado o desenvolvimento sadio dos pequenos, criando um distanciamento das crianças de atividades essenciais como as brincadeiras ao ar livre, jogos e demais exploração dos sentidos através das vivências cotidianas, distanciando-os na participação das atividades de casa, no cotidiano, nas conversas e partilhas entre amigos e familiares. Além disso, já existem estudos apontando para um prejuízo no desenvolvimento cognitivo das crianças, e muitos neurocientistas têm usado a palavra “adição”, ou seja, Transtorno de Dependência de Telas, afirmando que o buraco é bem mais fundo do que podemos mensurar hoje.
Noventa e três por cento dos brasileiros concordam, segundo dados do Datafolha (2024) que as crianças e adolescentes estão ficando viciados em redes sociais. Segundo o TIC Educação, em 2022, 72% dos alunos usam redes sociais durante atividades escolares, sendo que uso abusivo dessas redes comprovadamente prejudica o aprendizado ao trazer distúrbios de foco e concentração, causando ainda problemas como: a absorção de conteúdos impróprios que por sua vez danificam o desenvolvimento emocional e social das crianças de forma profunda, resultando isolamento social, cyberbullying, depressão, dentre outros.
Maria reforça que a escola deve ser um espaço que vai além da transmissão de conhecimento, sendo um ambiente de aprendizado integral e desenvolvimento humano. Além de limitar o celular, as escolas precisam proporcionar ambientes saudáveis e uma educação digital que prepare estudantes e famílias para uma jornada gradual de reeducação nas mídias, e juntos, alunos, famílias e educadores, construir um caminho que está somente em seu início.
“A educação precisa abranger aspectos cognitivos, emocionais e físicos das crianças. Estar ao lado das famílias apoiando, dialogando e ajudando a pensar e criar soluções para um desenvolvimento amplo e sadio é de suma importância para transformarmos o mundo que vivemos. Estar em contato com a natureza, brincar e se movimentar são partes fundamentais para a ampliação das habilidades socioemocionais e motoras da criança e devem ser apresentados à comunidade”, explica.