Sul de Minas

Organização criminosa que tinha prefeito de Guapé entre integrantes chegou a ameaçar promotor de morte em MG, diz polícia

 Foto: Reprodução 

Os integrantes da organização criminosa que foi desmantelada durante a operação que prendeu o prefeito de Guapé (MG), Nelson Lara e mais cinco pessoas na quarta-feira (7), teriam ameaçado um promotor de justiça de morte caso as investigações continuassem.

“Essa organização criminosa proferiu ameaças e até planejava contra a vida do denunciante, daquela pessoa que inicialmente trouxe aquelas informações e posteriormente houve até mesmo ameaças contra o promotor de justiça que atuava na esfera cível, dizendo que seria bom que ele levasse um tiro na cabeça. Crimes de ameaças que já foram levadas ao conhecimento do Poder Judiciário e que foram usados como fundamento também para a decretação dessa prisão preventiva”, disse o delegado Pedro Paulo Marques.

Nesta quinta-feira (8), o vice-prefeito Evandro Antônio de Oliveira (PSD) assumiu a prefeitura interinamente. Ele tem 54 anos, é formado em contabilidade e é filiado ao PSD, Partido Social Democrático.

O agora prefeito interino afirma que não vai deixar que as prisões dos agentes públicos prejudiquem a administração da cidade.

“Hoje mesmo nós já vamos fazer a nomeação dos novos secretários, gente da minha alta confiança, gente honesta, pra gente poder suprir a ausência dos outros que infelizmente foram presos. Terminamos agora uma reunião com todos os secretários, nós vamos olhar cada caso, ver questão de desvio de função, quem está no lugar certo e tocar o barco até o final do mandato”, disse o novo prefeito.

Por decisão judicial, foram bloqueados cerca de R$ 3 milhões das contas das pessoas investigadas.

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Também foram bloqueados vários imóveis, como terrenos em condomínios de luxo e loteamentos avaliados em R$ 8 milhões.

“O que nós descobrimos é que esse loteamento tinha na verdade o prefeito como proprietário, apesar que o nome dele não aparecia na documentação, nem na documentação inicial, nem nas aprovações expedidas pelo município para implantação daquele loteamento. Essa situação foi informada ao Tribunal da Justiça e por conta da documentação comprobatória foi determinado sequestro do loteamento, todos os seus 46 lotes se encontram bloqueados, à disposição da Justiça”, disse o promotor de justiça Fernando Muniz.

Segundo o coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Igor Serrano, a organização utilizava o pagamento de propina para as ações do grupo.

“Para criar facilidades e para não criar dificuldades, os empreendedores particulares que desejavam construir um determinado loteamento na cidade de Guapé, eles tinham que pagar propinas à organização criminosa. Isso se dava diretamente na forma de lotes, determinados lotes eram destinados ao prefeito, naturalmente que não para ele diretamente. Para laranjas ou eles permaneciam em nome do próprio empreendedor até que se tivesse um destinatário final para receber no futuro esse lote”,

Prisões

Nelson Lara foi preso durante a Operação “Trem da Alegria”. Ao todo, foram 38 mandados de busca e apreensão, afastamento de cargo público e prisão preventiva.

“Realmente aconteceu e será esclarecido, tenho certeza, nós estamos aí é para isso mesmo”, disse o então prefeito no momento da prisão.

Nelson Lara foi afastado das funções do cargo. A defesa dele disse que entrou com um pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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Além dele, foram presas outras cinco pessoas, entre elas o secretário de Obras e o procurador do município de Guapé, o diretor do SAAE e dois empresários do ramo imobiliário.

Os investigados seriam ouvidos nesta quinta-feira, mas permaneceram em silêncio.

“Na data de hoje os investigados foram ouvidos em relação a esses fatos remanescentes e eles utilizaram o direito constitucional de permanecer em silêncio, então eles nada disseram. Nós vamos agora fazer a análise dos materiais que foram apreendidos, muitos materiais foram arrecadados, aparelhos celulares, documentos sobretudo, físicos e eletrônicos, e após isso serão feitas outras diligências para se chegar ao final à conclusão dessa investigação com a responsabilização de quem praticou alguma conduta indevida”, disse o promotor Igor Serrano.

Os suspeitos são investigados por pelos crimes de corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e entrega de veículo automotor a pessoa não habilitada. O MP informou que já foi oferecida denúncia contra seis pessoas pela prática de oito crimes.

As investigações

Segundo as investigações, os denunciados são parte de um “grande esquema de corrupção que se instalou no Município de Guapé”. Segundo o MP, o grupo obtinha, por causa do cargo de prefeito municipal, vantagens indevidas na forma de terrenos de empresários do setor imobiliário.

Além disso, os integrantes da organização criminosa ocultavam a origem e a propriedade dos bens por meio de operações de lavagem de dinheiro. Paralelamente, eles também utilizavam para proveito próprio os bens públicos.

Foto: Lorena Vale

Ainda de acordo com o MP, os denunciados são investigados ainda por fraudes e desvios na execução de contratos administrativos e em licitações.

De acordo com o MP, as prisões foram decretadas para garantir a ordem pública e por conveniência da investigação e da instrução processual penal, uma vez que os denunciados planejavam ocultar documentos, combinavam versões e cogitavam atentar contra a vida e a saúde de pessoas de alguma forma envolvidas nas apurações.

Foto: Gaeco Varginha









O que diz a defesa dos envolvidos

Para a reportagem o advogado Marcus Vinicius Oliveira, que acompanhou a prisão do prefeito de Guapé, a decisão do pedido de prisão preventiva feita pelo desembargador Jolber Carneiro não está bem fundamentada. Ele informou que não teve acesso aos autos, apenas ao pedido de prisão.

Ainda de acordo com o advogado, o prefeito foi surpreendido com medida de busca e apreensão em sua residência e prisão preventiva. Segundo ele, o prefeito está tranquilo, seguro e passou voluntariamente a senha e o celular para a polícia. O caso será assumido por um advogado de Belo Horizonte.

No momento em que era levado à viatura policial, o prefeito falou com jornalistas que estavam no local: “Tudo será esclarecido, tenho certeza”.

O presidente da Câmara de Guapé, Danilo Álvaro da Silva (PCdoB), informou que vai esperar as investigações e o desenrolar da situação para saber mais sobre a prisão. De acordo com Danilo, diante dos fatos, a Câmara Municipal também poderá abrir uma investigação.