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Cunha, na contramão do turismo

Naturalmente turística, Cunha sofre o descaso do abandono para sua natureza turística.

No coração de Cunha, na Alameda Lavapés, em frente a Casa do Artesão, Dona Dita Paneleira olha com tristeza a entrada da cidade que recebe o L´ Étape e os turistas.

O Tour de France L’Étape Cunha 2024 promete ser um dos maiores eventos ciclísticos realizados no Brasil, trazendo consigo a grandiosidade e a tradição de uma das competições mais prestigiadas do mundo do ciclismo.

A escolha de Cunha, uma cidade conhecida por suas paisagens naturais deslumbrantes e pela sua rica cultura, como sede para uma etapa deste evento global, é um testemunho da crescente importância no circuito internacional de ciclismo.

No entanto, este cenário idílico contrasta fortemente com a realidade enfrentada tanto pelos atletas quanto pelos visitantes devido às condições atuais da infraestrutura urbana da cidade.

Apesar de receber um evento de tal magnitude, a administração pública de Cunha parece estar em desacordo com as necessidades básicas de preparação para um evento desta envergadura.

As ruas da cidade, que deveriam estar em condições impecáveis para acolher os ciclistas e espectadores, encontram-se esburacadas e negligenciadas.

O crescimento descontrolado de matos ao longo das vias e a poluição visual causada por uma guerra de placas de propaganda de negócios diversos são apenas alguns dos problemas que destacam a falta de planejamento e manutenção urbana.


O L´Étape, gancho excelente para divulgação que não foi realizada à altura pelo departamento de turismo. A mesma negligência ocorre com a Festa do Pinhão a poucos dias de sua abertura.

Esta incoerência na administração pública torna-se ainda mais evidente quando consideramos que, paralelamente ao L’Étape, Cunha também celebra uma de suas festas mais importantes, a Festa do Pinhão 2024.

Em sua 22ª edição, este evento, que ocorre de 15 de abril a 5 de maio, atrai visitantes de diversas partes do país, buscando experienciar a cultura local e as delícias culinárias baseadas no pinhão.

A falta de preparo da cidade para receber ambos os eventos simultaneamente não só prejudicam a experiência dos visitantes, mas também coloca em questão a capacidade de Cunha de se estabelecer como um destino turístico de renome.

A situação atual de Cunha reflete uma contradição em relação ao seu potencial turístico. Uma cidade que naturalmente deveria estar alinhada com as práticas de turismo e hospitalidade encontra-se, paradoxalmente, na contramão desses princípios.

A realização de eventos de grande porte, como o Tour de France L’Étape e a Festa do Pinhão, deveria servir como uma oportunidade para revitalizar a infraestrutura local, melhorar a qualidade dos serviços oferecidos e promover uma imagem positiva da cidade.

Esta é a principal entrada para o Centro Histórico, a menos de 300 metros da Casa do Artesão, 400 metros onde ocorre o L´Étape e a 700 metros do centro da cidade.

Para reverter essa situação, é imperativo haver uma ação conjunta entre a administração pública, os organizadores dos eventos e a comunidade local.

Investimentos em infraestrutura, como a reparação das vias urbanas e a organização do espaço público, são fundamentais. Além disso, deve-se adotar uma abordagem sustentável para o desenvolvimento turístico, que preserve as qualidades naturais e culturais de Cunha, ao mesmo tempo, em que oferece uma experiência acolhedora e memorável para os visitantes.

O Tour de France L’Étape Cunha 2024 e a Festa do Pinhão representam uma oportunidade única para a cidade de Cunha reafirmar seu compromisso com o turismo e a cultura, destacando-se no cenário nacional e internacional.

 
Descida da Alamêda Lavapés. Onde a prefeitura deveria ter realizado obras, o espaço é ocupado desordenadamente. Não há fiscalização e nem interesse político. As eleições estão próximas.

Porém, para que esse potencial seja plenamente realizado, é crucial que a administração da cidade reconheça e resolva as incongruências na preparação e na gestão de tais eventos, garantindo assim o sucesso não só destes eventos em particular, mas também o desenvolvimento sustentável e a prosperidade do turismo local no longo prazo.

Estado precário das condições de saneamento do lago do Parque Lavapés. Imagem contrária às campanhas contra a dengue. A administração não dá o exemplo.
Uma visão do Centro Histórico, da Rota de Acesso aos Ateliês, a menos de 500 metros do centro da cidade;

Por Márcio Amaral |Jornal Dever de Casa